Publicado por Redação em Notícias Gerais - 04/04/2014 às 11:27:54

Temor de bolha de crédito volta à tona

Em um dia ameno de primavera em Nova York, representantes do Citigroup preparam-se para apresentar a investidores a nova plataforma de securitização subprime do banco.
 
Isso pode soar como uma cena tirada de 2007, no auge da bolha de crédito que acabou desencadeando a crise financeira, mas o "roadshow" do Citi começou apenas nesta semana. O banco americano está preparando o mercado para o lançamento de uma securitização da OneMain Financial, seu braços de empréstimos subprime ao consumidor.
 
Ao fazer isso, o Citi quer recorrer a uma onda de demanda dos investidores por títulos de alto rendimento criados a partir de empréstimos "fatiados e recortados" que ela concede a tomadores de maior risco. A planejada venda é sintomática de um acontecimento mais amplo nos mercados de crédito, já que a sede por retornos maiores vem provocando temores de um possível superaquecimento e exames de consciência da parte dos bancos centrais.
 
Partes da máquina de securitização de Wall Street aceleraram a marcha, depois que as vendas dos bônus de classificação "junk" (alto rendimento e risco) cresceram e os empréstimos a empresas altamente alavancadas ultrapassaram os níveis registrados antes de 2008.
 
"Estamos começando a ver a formação de excessos especulativos. Ela está mais avançada nos Estados Unidos e começa a aparecer na Europa", diz Chris Watling, estrategista-chefe de mercado da Longview Economics.
 
Os bancos centrais vêm discutindo se a política monetária deveria levar em conta as bolhas dos ativos desde que as taxas de juros baixas cultivadas sob a presidência de Alan Greenspan no Federal Reserve (Fed, banco central americano) foram culpadas por atrair investidores para investimentos mais arriscados nos anos que antecederam 2008. No entanto, nos últimos meses essa discussão ficou mais pública na medida em que os mercados de crédito prosseguem em sua trajetória de alta.
 
Embora muitos membros do conselho do Fed afirmem que o banco central não deveria correr o risco de frustrar o crescimento no longo prazo para responder a possíveis excessos do mercado, alguns pensam o contrário.
 
Daniel Tarullo, presidente do conselho do Fed e sua principal autoridade reguladora bancária, disse em fevereiro que o banco central deveria se reservar a opção de usar a política monetária para combater bolhas latentes.
 
Jeremy Stein, colega de Tarullo no conselho, disse no mês passado que o Fed deveria incorporar os riscos à estabilidade financeira em sua política monetária. Ele acrescentou que o banco central deveria considerar a possibilidade de aumentar as taxas de juros quando as estimativas sobre os prêmios de risco no mercado de bônus estiverem anormalmente baixas.
 
Dias antes do pronunciamento de Stein, uma dessas medidas de prêmio de risco caiu ao menor nível desde o começo de 2007. A diferença - ou spread - entre o índice dos bônus de alto rendimento do Bank of America e os títulos do Tesouro dos Estados Unidos caiu para 291 pontos-base, não muito longe dos 288 pontos-base registrados em 2007.
 
"É aí que se pode entrar em discussões difíceis de serem resolvidas sobre o surgimento de uma bolha e a possibilidade de o Fed ser mais esperto que outros participantes do mercado", disse Stein em seu pronunciamento.
 
Para os banqueiros, a ideia de um banco central usando sua autoridade para esvaziar bolhas do mercado é mais que teórica. Eles afirmam que a diretriz sobre os empréstimos alavancados emitida no ano passado pelas autoridades reguladoras americanas, incluindo o Fed, diz respeito tanto a conter mercados excessivamente aquecidos, como a garantir que os bancos não concederão empréstimos arriscados demais.
 
"Eles estão tentando se certificar de que todos os empréstimos alavancados concedidos pelos bancos são seguros", diz um banqueiro de uma grande instituição. "Mas certamente o segundo grande motivo é conter o mercado porque eles gostariam de desestimular o que percebem como uma bolha de crédito."
 
Segundo participantes do mercado, a diretriz ainda não teve um impacto significativo. Os bancos venderam US$ 161,8 bilhões em empréstimos alavancados no primeiro trimestre de 2014, segundo dados da S&P Capital IQ. Isto é menos que o total vendido no mesmo período do ano passado, que foi de US$ 189 bilhões, mas ainda assim é um dos maiores níveis trimestrais já registrados.
 
"Isso está afetando o comportamento [dos bancos individualmente], mas não tenho certeza se está afetando o mercado", diz o banqueiro. "Se houver um desequilíbrio significativo entre a oferta e a demande de um determinado produto, ele encontrará uma maneira para deixar os sujeitos que os têm, e seguir para aqueles que os querem - ele vai se movimentar por áreas não regulamentadas."
 
Um estudo preparado para o Fórum de Política Monetária dos EUA de 2014 afirmou que os riscos à estabilidade financeira poderiam surgir até mesmo fora dos grandes bancos, desencadeando mais discussões sobre como as autoridades reguladoras deveriam estar se comportando em relação à estabilidade financeira.
 
Posteriormente, a mensagem do estudo foi reforçada por Stein, que alertou que "o crescimento acelerado dos fundos de renda fixa, assim como de outros veículos parecidos, deve ser observado cuidadosamente". Segundo os números apresentados pelo estudo, baseados em dados da Morningstar, investidores de todas as partes do mundo injetaram quase US$ 2 trilhões nos fundos de renda fixa entre o começo de 2008 e abril de 2013, eclipsando os menos de US$ 500 bilhões aplicados nas ações.
 
"Um fator pouco considerado nas discussões sobre a posse de setores do mercado de renda fixa é o da liquidez", diz Michael Fredericks, gerente de carteiras da BlackRock, o que significa que os investidores poderão ter dificuldades para sair de posições se a alta dos juros desencadear uma onda de vendas no crédito.
 
Para alguns analistas, longe da responsabilidade de vender pacotes de empréstimos subprime, a questão é simplesmente quando os mercados de crédito vão virar - e não se. "Cada vez mais parece que o ciclo do crédito está com os dias contados", disse esta semana em nota a investidores o estrategista do Citigroup Hans Lorenzen.
 
Fonte: Valor Online - São Paulo/SP - FINANÇAS


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