Publicado por Redação em Gestão de Saúde - 11/10/2023 às 10:40:27
Problemas de saúde mental lideram lista de acidentes de trabalho
Problemas de saúde mental, como estresse e ansiedade, são agora os mais comuns no local de trabalho, representando 52% de todos os casos de lesões ou doenças no ambiente profissional. É o que mostra um novo estudo da Atticus, empresa americana de advocacia que apoia pessoas a buscar ajuda do governo e de seguros.
Os dados são de entrevistas com 1.000 pessoas nos EUA, além de números recentes da agência de Administração de Segurança e Saúde Ocupacional, da Secretaria de Estatísticas Trabalhistas do país e do Google Trends, mas os problemas de saúde mental afetam profissionais de todo o mundo.
Estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido a problemas de saúde mental, que custam à economia global cerca de US$ 1 trilhão, segundo a Organização Internacional do Trabalho.
No Brasil, transtornos mentais relacionados ao trabalho são a terceira maior causa de afastamento, segundo Tânia Maria de Araújo, pesquisadora da UEFS. A preocupação dos brasileiros com o bem-estar mental quase triplicou em quatro anos, segundo pesquisa da Ipsos. Divulgado em outubro de 2022, o levantamento mostra que 49% das pessoas apresentam sintomas de ansiedade e depressão. E o trabalho pode ser um dos gatilhos para isso.
A situação é ainda mais crítica para mulheres, e especialmente mães. Os âmbitos financeiro e profissional são algumas das áreas de maior incômodo para as mulheres brasileiras, seja por dívidas, remuneração baixa ou sobrecarga de trabalho. Hoje, 60% querem mudar sua situação financeira e 30% gostariam de mudanças no trabalho, segundo levantamento da Think Olga, ONG voltada a questões de gênero que realizou um panorama da saúde mental feminina com as perspectivas de 1078 brasileiras com mais de 18 anos. O que explica por que 45% das mulheres receberam um diagnóstico de ansiedade, depressão ou algum tipo de transtorno mental.
Ansiedade e problemas mentais no trabalho
No ano passado, o Cirurgião Geral dos Estados Unidos, o principal porta-voz para questões de saúde pública no país, anunciou que locais de trabalho tóxicos estavam entre os cinco principais problemas de saúde. Além disso, 87% dos profissionais diziam que estavam sufocados em culturas de trabalho tóxicas e 79% relataram doenças mentais trazidas pelo trabalho. Uma pesquisa da Showpad, uma plataforma de capacitação de vendas, mostra que 40% dos trabalhadores sofrem de ansiedade e 65% dizem que ela foi desencadeada ao ir ao escritório ou ao participar de conversas de trabalho.
As pesquisas no Google por “burnout” dispararam 63% em setembro. E os sintomas não afetam apenas os níveis mais baixos das organizações. 43% dos gestores de nível intermediário também relataram esgotamento – mais do que qualquer outro grupo, segundo a pesquisa da Atticus.
Aqui estão algumas das principais descobertas do estudo:
- Um em cada 10 profissionais enfrenta problemas de saúde mental devido ao seu trabalho.
- As maiores lesões no local de trabalho (52%) estão relacionadas ao estresse e à ansiedade.
- Os problemas de saúde mental são 10 vezes mais comuns em relação ao trabalho do que à exposição a produtos químicos, e 8,6 vezes mais comuns que lesões na cabeça.
- Para efeito de comparação, 19% dos profissionais sofreram lesões físicas no trabalho e, como resultado, 26% deles apresentaram indenização trabalhista.
- 4 em cada 10 empregadores não oferecem seguro de invalidez.
Saúde mental na tecnologia
À medida que a indústria de tecnologia enfrenta layoffs e os funcionários têm cada vez mais trabalho acumulado, o papel do RH é vital no apoio aos funcionários. Mas como o RH lida com ambientes de trabalho tóxicos e demissões? A equipe do B2B Reviews – empresa que simplifica a tomada de decisões business to business – entrevistou mais de 1.000 funcionários da indústria de tecnologia para descobrir. Aqui estão as principais descobertas:
- Aproximadamente 1 em cada 10 profissionais de tecnologia descrevem a cultura da sua empresa como tóxica.
- Apenas 1 em cada 10 fizeram uma reclamação ao RH nos últimos seis meses, sendo o esgotamento por aumento da carga de trabalho (31%) a queixa mais comum.
- Mais de dois em cada cinco funcionários de tecnologia relataram demissões em sua empresa nos últimos seis meses.
- Mais de 1 em cada 10 funcionários de RH em empresas de tecnologia usaram o ChatGPT para elaborar rescisões.
- Mais da metade dos funcionários de RH que trabalham em tecnologia usaram o ChatGPT, economizando em média 70 minutos por semana.
Perfeccionismo e burnout
Mas o esgotamento profissional não é apenas uma consequência das condições do trabalho por si só. Há algo que muitos funcionários trazem para o trabalho e que contribui para o estresse e a ansiedade. O “burnout do perfeccionista” resulta de exigências que os trabalhadores impõem a si mesmos ao longo do dia ou da semana.
De acordo com uma pesquisa da Gallup de 2022, 76% dos trabalhadores americanos relatam sentir fadiga e frustração extremas, que são sintomas do burnout. E os perfeccionistas, mais do que o profissional médio, correm maior risco de esgotamento, que aumentou desde a década de 1980 até agora – devido ao crescimento da pressão, do estresse e da ansiedade.
Um plano de autocuidado pode te ajudar a conhecer seus limites, definir expectativas realistas, evitar o esgotamento e comunicar sentimentos de sobrecarga ou fadiga a chefes e colegas de trabalho. Isso pode significar recusar um novo projeto ou abrir mão de algumas responsabilidades. Cada um precisa fazer a sua parte para proteger a saúde mental. Tire um tempo para você (meditação, exercícios, micropausas, hobbies e hábitos alimentares) regularmente e jogue fora o que agrada às pessoas, mas entra em conflito com a sua saúde mental.
5 dicas para sobreviver a um ambiente de trabalho tóxico
Deixe de lado o que você não pode controlar
Ao tentar sobreviver a um ambiente de trabalho tóxico, é fundamental lembrar que existem coisas fora de sua esfera de influência. Enquanto você normalmente não pode controlar a cultura, você pode controlar como você responde à situação. Comece deixando de lado quaisquer pensamentos e sentimentos negativos. Ao fazer isso, você se livra deles e de todo o estresse e ansiedade que eles causam.
Estabeleça limites
Culturas de trabalho tóxicas podem ser desgastantes. É por isso que é tão importante desenvolver e impor limites saudáveis. Parte dessa estratégia é evitar as fofocas do escritório. Por exemplo, quando seu colega começar a falar mal de seu chefe ou colegas de trabalho, tente mudar de assunto. Dessa forma, você pode evitar ser sugado pela negatividade.
Encontre um grupo de apoio
Encontre pessoas em quem você confia para ajudá-lo a superar esse momento difícil. Embora possa haver muita negatividade no trabalho, tente encontrar colegas positivos que possam melhorar seu humor e ajudá-lo a se sentir menos isolado. Também pode ser útil trabalhar com um mentor ou coach se você achar que é hora de procurar outras oportunidades.
Crie um plano de ação
Uma das melhores maneiras de começar a controlar a situação é agir. Comece com um pequeno passo. Quando você está “em ação”, é muito mais difícil se sentir preocupado ou desamparado. Por exemplo, se você decidir que é hora de começar a procurar um novo emprego, faça isso em silêncio. Em alguns ambientes de trabalho tóxicos, outras pessoas podem não ficar felizes se descobrirem que você está procurando emprego, apesar de tudo. E comece já a economizar dinheiro para poder sair se as coisas ficarem incontroláveis.
Lembre-se de que você não é seu trabalho
Ligar muito estreitamente nossas identidades ao trabalho pode ser perigoso. É importante lembrar que sua carreira não define você. Uma razão é que, se você vincular sua identidade ao seu trabalho, os sucessos e fracassos que experimentar afetarão diretamente sua autoestima. Quando você fica tão enredado com seu trabalho que ele começa a defini-lo, você também pode começar a deixar que ele determine seu próprio valor. Em vez disso, identifique as coisas que realmente importam para você e mantenha-as na vanguarda de sua vida profissional.
*Bryan Robinson é colaborador da Forbes. Ele é autor de 40 livros de não-ficção traduzidos para 15 idiomas. Também é professor emérito da Universidade da Carolina do Norte, onde conduziu os primeiros estudos sobre filhos de workaholics e os efeitos do trabalho no casamento.
(Traduzido e adaptado por Fernanda de Almeida)
Fontr: Forbes