Publicado por Redação em Notícias Gerais - 22/09/2015 às 11:31:07
Preço do petróleo ladeira abaixo. E o Brasil com isso?
O preço do barril caiu à metade em um ano. Por aqui, o controle da inflação agradece, mas e os investimentos no pré-sal?
Um carrinho de montanha-russa despencando num vale que parece não ter fim. A imagem ajuda a ilustrar o comportamento do preço do barril do petróleo no mercado internacional ao longo do último ano. Em setembro de 2014 era 95,89 dólares, ficou abaixo dos 40 dólares em agosto, e ensaiou leve recuperação nas últimas semanas, aos 45 dólares. O uso do fracking – método que injeta água e areia em alta pressão em formações xistosas para libertar gás e petróleo de lugares antes inacessíveis pelos Estados Unidos –, e a expectativa da volta das exportações do Irã elevam a oferta e ajudam a explicar o que está acontecendo.
Prever o que acontecerá, no entanto, é tarefa árdua para especialistas e atores desse mercado. Na dinâmica da economia, vantagens e desvantagens da cotação atual do petróleo dependem do ângulo – e dos interesses – de quem olha.
No caso do Brasil, que ainda importa parte da gasolina e outros derivados, o preço mais baixo do barril reduz os custos, o que é bom para a economia e para a Petrobras, na avaliação do presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquim. "O fator cambial comeu parte dessa vantagem, mas a queda do preço do barril é favorável nesse sentido", afirma.
A opinião é compartilhada pelo professor de finanças da graduação e do mestrado da Fundação Instituto de Administração (FIA) Rodolfo Olivo. No atual contexto interno, a redução do preço vem a calhar, já que dispensa a Petrobras de realizar reajustes no preço da gasolina que fatalmente pressionariam para cima os índices de inflação.
Outro aspecto a ser considerado, porém, é o investimento. Embora a maturação da exploração de petróleo seja de longo prazo, barril em baixa significa menos fôlego das petroleiras.
Para Olivo, qualquer impacto negativo para o Brasil só se dará no longo prazo e apenas se o preço do petróleo continuar baixo, o que inibiria novos investimentos. Além disso, o alto custo da extração do óleo do pré-sal exige um preço mínimo que viabilize a atividade. O número, para ele, é em torno de 40 dólares. "A complexidade do pré-sal exige um ponto de equilíbrio e estamos perto dele."
Por outro lado, a a redução do custo dos equipamentos usados na extração do óleo tem como efeito colateral a queda dos preços internacionais, o que pode beneficiar o Brasil. Se, por um lado, o menor preço reduz o recurso excedente das empresas para ampliar a produção, há uma nítida queda nos custos, avalia Tolmasquim.
Fracking
Especialistas apontam o uso do fracking como fator determinante para o aumento da oferta. A técnica colocou os Estados Unidos no topo dos produtores de gás natural e aumentou a produção de petróleo. Tal cenário gerou excedente desses produtos e, consequentemente, derrubou os preços.
A commodity mais barata trouxe benefícios aos países industrializados, com alta demanda, especialmente aos Estados Unidos, que reduziram drasticamente suas importações. Por outro lado, países exportadores de petróleo viram suas receitas despencarem e novos investimentos serem suspensos ou adiados, o que é mais um fator de desequilíbrio na já instável economia mundial.
O uso do fracking, porém, não prejudica apenas as contas dos exportadores de petróleo. O método é considerado nocivo ao meio ambiente e foi associado à ocorrência de terremotos leves nos Estados Unidos e ao aumento de poluição nos lençóis freáticos. Justamente por isso, em março deste ano, o país criou novas regras para seu uso, exigindo, por exemplo, que as empresas isolem seus poços com barreiras de concreto e sejam transparentes quanto às substâncias químicas usadas na atividade.
As novas medidas entraram em vigor em junho e ainda é cedo para medir se haverá algum tipo de impacto sobre a oferta de óleo. "Precisaríamos de pelo menos um ano para saber se haverá algum tipo de redução na produção, mas não acredito que isso ocorra, pois as medidas não devem impactar significativamente os custos de produção por lá", opina o professor Rodolfo Olivo, da FIA.
Efeito Irã
Em um cenário de oferta elevada entra em cena um novo ator: o Irã. O país persa deve dobrar sua produção de petróleo, para 1 milhão de barris por dia, e, ao menos tempo, recuperar a parcela perdida nas exportações com o alívio das restrições comerciais ao país. Esse aumento da oferta tende a puxar para baixo ainda mais o preço do barril.
Em julho, o Irã e seis potências mundiais chegaram a um acordo para restringir o programa nuclear iraniano, e as sanções impostas em 2012 devem ser suspensas assim que o país cumprir todos os termos do pacto.
A volta do Irã com carga total pesa especialmente sobre três dos maiores produtores do mundo: Arábia Saudita, Rússia e Venezuela. A Rússia sofre para manter sua economia diante da queda das receitas provenientes do óleo. A Venezuela, mergulhada em uma grave crise econômica, também amarga os inevitáveis efeitos da queda livre dos preços internacionais, uma vez que é extremamente dependente da receita proveniente da exportação da commodity. Já a Arábia Saudita, que conta com uma economia mais estável, prefere não reduzir a produção para elevar os preços e se manter firme nos mercados conquistados, uma forma de enfraquecer seus concorrentes. A favor da Arábia Saudita estão ainda reservas monetárias de 750 bilhões de dólares e o menor custo de produção do mundo: cerca de 5 dólares por barril.
Alberto Machado Neto, coordenador e professor dos MBAs na área de Petróleo e Gás da Fundação Getulio Vargas (FGV), lembra que o esforço da Arábia Saudita em manter o preço baixo faz parte da estratégia de dificultar o desenvolvimento dos chamados neoprodutores, como Estados Unidos, Canadá e Brasil. A partir do momento em que as grandes corporações lucram menos com o óleo, perdem fôlego para novos investimentos.
E daqui para frente?
Um equilíbrio é esperado para 2018, e em dez anos o preço do petróleo deve estar entre 85 dólares e 90 dólares, segundo Tolmasquim. O presidente da EPE explica que são dois os fatores que levarão o mercado a esse equilíbrio: de um lado, a aguardada retomada do crescimento da economia mundial elevará a demanda. Por outro, o alto custo de extração dos campos marginais deve pesar sobre a oferta do produto.
Machado Neto também não vê a tendência de queda se alongando no médio prazo. Para ele, um preço equilibrado é entre 50 dólares e 70 dólares. Números fora desse intervalo são considerados picos de curto prazo. O especialista observa ainda que se novos patamares de preços se consolidam além dos picos, há margem para países e empresas reverem suas matrizes energéticas, o que mudaria toda a dinâmica desse mercado.
No mapa econômico mundial há outro dado fundamental: dos 15 países mais ricos do mundo, apenas um, a Rússia, é exportador do produto. Outros oito dependem da importação do petróleo, mas seis, incluindo o Brasil, já são autossuficientes na produção.
Atualmente, o Brasil importa uma pequena parte do que consome. Diante de uma pressão altista de preço, porém, pode rearranjar sua matriz energética e reduzir a importação. Dos 45 países mais ricos, apenas quatro são da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). "É uma queda de braço entre poderes econômicos, entre o poder do petróleo e o poder financeiro", conclui Machado Neto.
Fonte: Revista Carta Capital