Publicado por Redação em Carreira - 25/11/2019 às 16:30:51
Oferta de estágio cresce e sinaliza aquecimento do mercado formal
Em meio ao desemprego que chega a 11,8% no País, estudantes em busca de estágio encontram um mercado atualmente cheio de oportunidades. Após uma queda significativa na oferta de vagas em 2015 e 2016, anos mais críticos da crise econômica, o mercado voltou a crescer em 2017.
De acordo com dados do CIEE (Centro de Integração Empresa-Escola), o volume de contratações cresceu cerca de 6% em 2018 – ano que finalizou com 382.907 ofertas de vagas de estágio. Neste ano, a tendência é que o aumento seja de cerca de 4% em relação ao ano passado.
“Se considerarmos o mesmo crescimento de janeiro a outubro deste ano para os meses de novembro e dezembro, ou seja, de 3,7%, deveremos fechar o ano com 397.221 vagas, contra 382.907 do ano passado”, projeta Marcelo Gallo, superintendente Nacional de Operações do CIEE. Segundo a entidade, a média de efetivação após o estágio é de 50% nas empresas privadas.
Há quem pense que, em tempos de crise, sai mais em conta as empresas chamarem um estagiário no lugar de um profissional formado. Mas não é bem assim, explica Gallo. “Há incentivos fiscais para se contratar um estagiário, pois não existe vínculo empregatício. Ou seja, não tem INSS, 1/3 de férias, FGTS e outros. Mas, para o empregador, contratar alguém sem experiência também é um investimento, por conta da supervisão, da capacitação e do treinamento. Tudo isso tem um custo, então acaba sendo uma troca.”
Para Fernando Gaiofatto, gerente da Catho Educação, este aumento no número de vagas – percebido em 10% de 2017 para 2018 no site de empregos – acompanha o crescimento do mercado, de um modo geral. “O cenário já está mais aquecido e, consequentemente, isso se reflete também no quadro de estagiários”, afirma. O que acontece, diz, é que, como a contratação de um estagiário é menos onerosa, ela acaba acontecendo de forma mais rápida.
Mas o mesmo acontece quando a economia começa a apertar. Quando a crise exige reduzir quadro de funcionários, muitas vezes os patrões começam cortando pelo setor de estágios, porque a rescisão é mais barata (equivale aos dias trabalhados mais as férias proporcionais).
É o que explica a queda na oferta de vagas de estágio em 2015 e 2016, quando o PIB brasileiro caiu quase 8%, maior queda da história do País, aponta Renan Pieri, professor de economia da Escola de Administração de Empresas da Faculdade Getúlio Vargas (FGV). “Depois, até as empresas terem certeza de que a economia realmente estabilizou, elas contratam primeiro os modais mais flexíveis, que é o caso do estágio. No entanto, uma vez que o mercado dê sinais mais robustos, aí sim efetiva o estagiário ou contrata um trabalhador mais experiente por meio da CLT”, diz Pieri.
Investimento no profissional
A contratação de estagiários, como afirma Marcelo Gallo, do CIEE, é uma das formas mais produtivas de formar quadros de funcionários. “Muitas empresas recrutam estudantes dos últimos períodos com a perspectiva de que eles continuem na organização, se apresentarem bons resultados. É uma maneira de preparar este profissional para a cultura organizacional da empresa.”
Foi com essa intenção que Jonathan da Silva Melo, gerente de marketing da empresa de telefonia Net2Phone, contratou em agosto Matheus Vinicius de Farias Salgado, de 21 anos. “Deparei com uma necessidade na área de conteúdo, para nos ajudar na criação de novos tópicos para a empresa”, diz Melo. Para ele, a contribuição do estagiário tem sido diferenciada. “Realmente está nos surpreendendo. Acredito que Matheus está aprendendo lições que serão valiosas para ele no futuro, estando aqui conosco ou indo para outra empresa.”
Matheus foi contratado durante a temporada de estágios aberta na virada do semestre. Como explica Marianne Lisboa, recrutadora do Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube), as temporadas são o melhor momento para encontrar uma oportunidade. “São quando as empresas costumam abrir mais vagas, naquela época de fim de férias e começo do período das aulas”, diz. Segundo ela, o Nube recebe cerca de 5 mil novas vagas de estágio por semana.
Para Matheus, que cursa o último ano de jornalismo na Unip (Universidade Paulista) e está no seu segundo estágio, a rotina é corrida entre a graduação, o TCC (trabalho de conclusão de curso) e o estágio. Ainda assim, diz, é um momento de grande aprendizado. Sua função na Net2Phone é criar conteúdos para as redes sociais e elaborar textos sobre a marca. “É estando ali no dia a dia (da empresa) que assimilamos tudo. A formação é o primeiro passo que o ensina a ser um profissional, mas é no mercado de trabalho, iniciando com o estágio, que se começa a crescer profissionalmente”, diz Matheus.
O QUE SABER SOBRE ESTÁGIO
Quem pode estagiar?
Estudantes a partir dos 16 anos, que estejam frequentando regularmente cursos de ensino médio, profissionalizante ou ensino superior. É necessário que a frequência escolar seja atestada pela instituição de ensino.
Existe piso salarial?
Não, a bolsa-auxílio fica a critério do contratante, mas existe uma faixa salarial no mercado. Segundo a Pesquisa Salarial da Catho, a média é de R$ 959,64. Além disso, a Lei de Estágio (nº 11.788/2008) estabelece que o estágio não obrigatório deve ser remunerado.
Quantas horas dura o estágio?
São 6 horas diárias e 30 horas semanais.
Estagiário tem férias?
Sim, 30 dias remunerado a cada 12 meses de estágio. No entanto, não há abono (1/3 das férias) nem 13º salário.
Precisa assinar carteira?
Não. Algumas empresas carimbam a carteira de trabalho, mas não é obrigatório. O estágio também não serve como tempo de contribuição.
Como comprovar o estágio?
O documento solicitado é o Termo de Compromisso de Estágio, assinado pelo jovem (se for menor, pelo representante legal), pela instituição de ensino e pela empresa.
A quem o estagiário se reporta?
Ao supervisor dentro da empresa ou ao responsável pelo setor de RH. As instituições de ensino também costumam ter uma área de coordenação de estágio.
O QUE AS EMPRESAS BUSCAM NO ESTAGIÁRIO
Vontade de aprender
Como o candidato tem pouca ou nenhuma experiência, a seleção é feita com base em características comportamentais. “O recrutador vai ver se tem iniciativa, boa comunicação e abertura para aprendizagem”, diz Marianne Lisboa, do Nube.
Colaborar com ideias
Outro desejo das empresas é o de que o profissional traga novos ares. “O conhecimento que esses jovens têm de mídias sociais e tecnologia nos ajuda. O que esperamos é que ele esteja aberto a aprender e contribuir com ideias”, diz Jonathan da Silva Melo, da Net2Phone.
Fonte: Estadão