Publicado por Redação em Notícias Gerais - 02/09/2015 às 11:11:44

Governo sem alternativa recorre ao Congresso para conter rombo fiscal

O presidente do Senado, Renan Calheiros.

Relator do Orçamento defende um imposto transitório e diz que déficit pode ser pior

A esperança do Governo Dilma Rousseff (PT) para equilibrar o rombo de 30,5 bilhões de reais previsto no Orçamento de 2016 vem de um lugar que lhe tem sido pouco amistoso: o Congresso Nacional. Numa sinalização de que se encontra com poucas opções a mão na crise, o Planalto aposta suas fichas em uma relação que nos últimos meses foi conturbadíssima para tentar não só barrar novos projetos que aumentem gasto público como, eventualmente, juntar forças suficientes para aprovar novos tributos, nem que sejam temporários.

Nesta terça-feira, um dia após anunciar o primeiro orçamento deficitário de um poder Executivo brasileiro, Rousseff pediu o apoio de Cunha e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para que as duas Casas não aprovem medidas que resultem em mais gastos. No dia anterior ela já havia conversado com ao menos doze deputados e senadores de sua base aliada. Rousseff recebeu os dois presidentes, em momentos diferentes, em seu gabinete, no Palácio do Planalto. Com Calheiros, a conversa foi mais longa, quase três horas. Com Cunha, que rompeu com a petista em junho, foi breve, uma hora. Os dois saíram dos encontros dizendo que vão ajudar o Governo e dando o apoio institucional necessário.

“A preocupação [de todos] é o Orçamento, o déficit e o aumento de despesa pública por projetos que possam ser aprovados e que têm impacto orçamentário. Obviamente, ela [Rousseff] manifestou essa preocupação”, explicou Cunha após a reunião. Considerado incendiário por parte da base governista, o presidente da Câmara informou a Rousseff que, "pessoalmente", ainda segue rompido com o Planalto, mas que está aberto ao diálogo com “quem quer que seja”.

No Congresso tramita uma série de projetos que, se aprovados, resultarão em um rombo bem maior do que os 30,5 bilhões de reais previstos pela equipe econômica de Rousseff. Entre eles estão reajustes salariais de categorias que estão no topo da carreira pública, como delegados, auditores, procuradores e membros da Advocacia-Geral da União.

O relator da Comissão Mista de Orçamento, deputado governista Ricardo Barros (PP-PR), diz que o ideal mesmo era que um novo imposto temporário fosse aprovado para amenizar os efeitos do rombo orçamentário. “Se tivéssemos uma nova fonte de financiamento, teríamos menos impacto no setor produtivo. Agora, corremos o risco de ter a nota de investimento rebaixada e o Brasil passar a ser visto como mau pagador. Isso, sim vai ser preocupante para a economia”, considerou. A recriação da CPMF (o imposto do cheque) para financiar a saúde pública chegou a ser cogitada na semana passada, mas com reações negativas vindas do Legislativo e do empresariado, o Governo recuou da ideia e decidiu apresentar esse orçamento deficitário. Ocorre que até o vice-presidente e ex-articulador político do Planalto, Michel Temer, já se disse contra mais tributos.

Na proposta apresentada nesta semana, a equipe econômica de Rousseff previa uma redução proporcional de investimentos em programas vitrines da gestão petista (Minha Casa Minha Vida, Pronatec e Ciência Sem Fronteira). Mas com pouco a economizar com cortes, por ora, o Governo aprova aumento de impostos que não dependem do Congresso, como os sobre produtos eletrônicos.

Enquanto isso, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, segue pressionando os parlamentares. Nesta terça, ele voltou a criticar o Congresso por ter adiado medidas do ajuste fiscal, como o aumento de tributos sobre a folha de pagamentos das empresas. Defendeu mais uma vez uma "ponte fiscal", uma referência a possíveis novas fontes de recursos. Ele falou da crise internacional como complicador da situação: “A maré mudou e a ficha tem que cair, se me permitem o coloquialismo”.

O onda de metáforas sobre a crise chegou até o funk. Calheiros, um dos alvos do recado de Levy, usou uma música de Valesca Popozuda para prometer ao Governo que não será um sabotador: "Tiro, porrada e bomba, para utilizar uma expressão tão contemporânea da música brasileira, não reerguem nações e espalham ruínas que, lamentavelmente, só ampliam os escombros. Nós não seremos sabotadores da nação e nem agentes de mais instabilidade", disse.

Protesto da oposição

Entre os oposicionistas, a tônica foi aumentar a pressão. Um manifesto assinado por cerca de 40 deputados e senadores da oposição pediu para que Renan devolvesse ao Executivo o Projeto de Lei do Orçamento enviado na segunda-feira ao Congresso. A justificativa desses parlamentares é que a peça fere a Lei de Responsabilidade Fiscal, já que na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que ainda está sendo apreciada pelos congressistas, a previsão era que houvesse um superávit, não um déficit. “Se o Governo teve condições de mudar entre a LDO e o Orçamento, ele tem condições de mudar de novo. Ou o Congresso devolve o projeto para o Executivo, ou o próprio Executivo assuma sua incompetência e mostre que o déficit será bem maior do que o divulgado ontem. Deve passar de 100 bilhões de reais”, disse o deputado Mendonça Filho, líder do DEM na Câmara.

Já o líder do PPS, o deputado Rubens Bueno, disse que o governo quer culpar o Legislativo por suas falhas na área econômica. “É a negação do presidencialismo. A presidente joga para o Congresso a sua responsabilidade. Era ela quem deveria apontar os rumos para sairmos da crise. Não nós”, afirmou.

A ideia dos oposicionistas não é vista com bons olhos pelo presidente do Senado. “Eu vou conversar com a oposição, recolherei seus argumentos, mas desde ontem digo que eu não cogito devolver a proposta orçamentária. Eu acho que é papel do Congresso melhorá-la, dar qualidade a ela. E cabe ao governo federal sugerir caminhos para a solução do déficit”, ponderou.

Seja como for, uma coisa é certa: nas próximas semanas, o Ministério do Planejamento já terá de refazer suas contas porque não incluiu no seu cálculo negativo duas faturas a serem pagas. São elas: os repasses para os Estados da Lei Kandir (que trata do Imposto Sobre Circulação de Mercadoria) e parte das emendas parlamentares, que agora são de execução obrigatória. O déficit será ao menos 10% maior do que inicialmente esperado. “A nossa luta é para não aumentar ainda mais”, concluiu o relator Barros.

Fonte: El País Brasil


Linhas Financeiras

Posts relacionados

Notícias Gerais, por Redação

Pontualidade de micro e pequenas empresas é recorde, diz Serasa

A pontualidade de pagamentos das micro e pequenas empresas chegou a 95,9% em setembro, segundo pesquisa da Serasa Experian divulgada nesta quarta-feira.

Notícias Gerais, por Redação

Censo 2010: brasileiro vive 25 anos a mais que em 1960

Dados do Censo 201o, divulgados hoje pelo IBGE, mostram que em meio século (1960-2010), a expectativa de vida do brasileiro aumentou 25,4 anos, passando de 48,0 para 73,4 anos.

Notícias Gerais, por Redação

MetLife foca no crescimento global

A MetLife irá mudar seu mix de produtos nos Estados Unidos e focar mais no crescimento em mercados internacionais para elevar substancialmente seus ganhos até 2016, informou a maior seguradora de vida dos EUA nesta quarta-feira.

Notícias Gerais, por Redação

IPCA acelera para 0,64% em abril, aponta IBGE

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 0,64% em abril, acima do observado em março, quando os preços subiram 0,21%.

Notícias Gerais, por Redação

Inflação do consumidor nas capitais de 2011 fica em 6,3% e supera marca de 2010

A inflação do consumidor nas capitais brasileiras, medida pelo IPC-S (Índice de Preços ao Consumidor - Semanal), encerrou 2011 em 6,36%, patamar maior que o registrado em 2010, quando a elevação dos preços ficou em 6,24%.

Notícias Gerais, por Redação

Dólar tem forte queda e cede para R$ 1,83; Bovespa sobe 0,59%

Utilizado para as operações financeiras e de comércio exterior, o dólar comercial foi trocado por R$ 1,832 nas últimas operações desta quarta-feira, o que representa uma forte queda de 1,87% em cima do fechamento de ontem.

Deixe seu Comentário:

=