Publicado por Redação em Saúde Empresarial - 10/09/2015 às 12:10:58
Entre o SUS e o plano de saúde
Clínicas particulares populares cobram R$ 50 por consulta e lucram com o volume de clientes
Emparedada entre serviços deficitários do Sistema Único de Saúde (SUS) e os altos preços dos planos, a classe C tem visto nas clínicas particulares populares uma alternativa para cuidar da saúde. No centro de Belo Horizonte, é possível conseguir uma consulta com um clínico geral ou ortopedista por R$ 50. “Os médicos são bons, não tem fila. Só tive problema de pontualidade na hora de fazer um exame”, relata o pastor Cristiano Lopes, 28, usuário do Núcleo de Atendimento Prime Solidária.
Segundo a diretora-geral do Núcleo, Rose Norberto, o núcleo supre a necessidade de uma população que não consegue ser atendida pelo SUS. “A demanda é muito grande e muitas vezes o médico não está lá (no SUS). É um problema da rede pública”, afirma.
O núcleo oferece médicos de cinco especialidades: ortopedia, clínico-geral, clínico examinador, geriatria e cardiologia, além de exames como raio X, eletroencefalograma, eletrocardiograma, teste ergométrico e de acuidade visual. Segundo Rose, o preço da consulta é fixo para toda as especialidades. Para marcar também não há demora. “As consultas são agendadas e em até 48 horas a pessoa consegue, tanto consulta como exames”, afirma a gestora.
Uma estrutura semelhante tem a clínica João Paulo, que fica na mesma região da cidade, com consultas a partir de R$ 70, em 11 especialidades médicas.
O modelo de negócio dirigido para a classe C é sustentável, segundo o administrador e proprietário da clínica João Paulo, Altimar Garcia Leão. “Não estou rico, mas não posso reclamar. É possível manter a clínica e atender a preços populares sim”, afirma.
A médica coordenadora técnica da área de saúde do Núcleo Prime Solidária, Cristiane Pereira Rabelo, concorda. “O médico não precisa cobrar os preços exorbitantes que vemos em alguns consultórios. Esses profissionais vivem muito de marketing”, afirma. Rose Norberto acrescenta que o atendimento popular não é mau negócio para o profissional de saúde, porque “ele ganha no volume”, analisa a médica.
“Vejo ganância em alguns médicos e até mesmo faço um questionamento da ética profissional de alguns. Porque ele deveria atender até de graça se fosse preciso”, avalia Leão.
A crise, porém, também afeta as clínicas. Segundo Leão, a clínica João Paulo tem capacidade e já atendeu até 250 pacientes em um dia. Atualmente, este número está em 150.
Tabela de preço
Valores de consultas e exames em clínicas populares na região central da capital mineira
Raio X do crânio: R$ 20
Raio X do braço: R$ 22
Raio X do omoplata em três posições: R$ 30
Ultrassom: a partir de R$ 30
Consulta médica: a partir de R$ 50
Clínica conta com subsídios
As formas de viabilizar o negócio de saúde popular podem variar. No caso do Núcleo de Atendimento Prime Solidária, se trata de uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) que mantém cerca de 8.000 associados, entre pessoas físicas e jurídicas, que contribuem mensalmente e ajudam a subsidiar os atendimentos e viabilizam os valores menores aplicados pelo núcleo. “O valor da contribuição não é fixo. O associado escolhe, mas o mínimo é R$ 10”, explica a diretora-geral do Núcleo, Rose Norberto.
Já o formato da clínica João Paulo é de uma empresa privada. Segundo o administrador e proprietário da clínica, Altimar Garcia Leão, um dos seus segredos de sucesso é separar os médicos da gestão. “Quem administra sou eu, controlo pessoal e custos. Assim, o médico foca no que ele é bom, que é o atendimento ao paciente”, avalia Leão.
Entre os investimentos da clínica, está um tratamento de emagrecimento a preços populares. “O paciente paga R$ 20 por semana e faz todo o programa com nutricionista e sem medicamento. Já conseguimos que um paciente perdesse mais de 50kg”, conta Leão. O serviço também é oferecido em cidades de Minas como Divinópolis e Juiz de Fora.
Dr. Consulta é sucesso em SP
Enxergar a população sem acesso fácil ao atendimento médico como um nicho de mercado foi a grande ideia do administrador Thomaz Srougi, criador da rede de clínicas Dr. Consulta que oferece atendimento médico a preços populares em regiões carentes de São Paulo.
“Não se trata de filantropia. Porque não se resolve um problema sério como o acesso à saúde, com ações beneficentes”, disse Srougi em uma palestra no escritório de São Paulo da Universidade de St .Gallen (HSG), em maio.
O início da Dr. Consulta se deu na favela de Heliópolis, e hoje já mantém sete unidades na grande São Paulo.
Nas clínicas, o paciente tem acesso a 27 especialidades e a consulta custa R$ 80. Os exames também têm um custo bem mais baixos do que os hospitais tradicionais da capital paulista. Um hemograma sai por R$ 10 e o raio X, a partir de R$ 25.
A rede surgiu em 2011 e vem acumulando até 2014 um crescimento médio mensal de 40%. São realizados mensalmente 600 atendimentos por unidade.
Com objetivos bem claros, Srougi, pós-graduado em administração e gestão pública em universidades renomadas como University of Chicago, Harvard Business School e Kauffman Fellow, tem metas rígidas de desempenho e controle de custos. Ele afirma que se inspirou em projetos parecidos em países da América Latina. “Testei, adaptei e agora quero crescer, sempre seguindo a lógica simples, de gerar renda ao mesmo tempo em que agrego um valor muito importante à população”, disse o administrador em 2012.
O plano agora é de expansão. A empresa pretende chegar a 100 unidades na grande São Paulo e atender 3 milhões de pacientes anualmente, até 2018.
Fonte: Jornal O tempo