Publicado por Redação em Gestão de Saúde - 06/10/2020 às 15:12:26
Engajamento, comunicação e saúde: as prioridades das empresas na crise
Qual foi o impacto da covid-19 na saúde mental e nas prioridades das companhias brasileiras e quais são as perceptivas de futuro? Para responder a essas perguntas a consultoria Falconi conversou com mais de 500 líderes de empresas do Brasil e fez um mapeamento de como a crise está impactando os negócios.
O estudo, divulgado com exclusividade por VOCÊ RH, mostra, por exemplo, que a maior parte das companhias (72%) adotaram iniciativas humanizadas para os funcionários, como dicas de saúde e bem-estar e atendimento remoto de especialistas. Mesmo assim, 37% das organizações percebeu um aumento nas doenças psíquicas, o que mostra a importância de tratar o tema internamente.
Do ponto de vista do RH, os desafios são: engajar as pessoas à distância, comunicar bem remotamente, garantir a saúde física e mental dos empregados, manter e melhorar o clima organizacional e ajudar no equilíbrio entre vida pessoal e profissional. As demandas são complexas e há um grande problema: mais da metade dos entrevistados (51%) acredita que o RH não tem a estrutura necessária para dar conta de tudo isso.
Roberta Bicalho, Senior Advisor da Falconi, explica na entrevista a seguir qual é o papel da área de pessoas nesse contexto complexo.
Um dos dados da pesquisa revela que 37% das empresas relataram aumento em doenças psiquiátricas. Este será um tema com o qual os gestores precisarão se preocupar mais no pós-crise?
Com certeza. Esse será um tema que as empresas precisarão ficar de olho no futuro. Não mais do que durante a pandemia, mas mais rotineiramente do que no momento pré-covid. Temos que ter em mente que o modelo atual de home office é totalmente diferente do que já tivemos ou do que viveremos no futuro e isso acontece, principalmente, por causa dos diversos desafios trazidos pela pandemia, como a instabilidade econômica (que pode impactar empresas e gerar uma redução de salário, jornada etc.); mudança na rotina das famílias (fechamentos das escolas, por exemplo); e o próprio medo do vírus e preocupação com os familiares.
Além desses pontos, a pandemia ainda trouxe outros desafios na rotina do profissional e exigiu competências que muitos ainda não tinham ou, se tinham, não eram bem desenvolvidas. Todos esses motivos aliados à pressão pela adaptação e resultados fizeram com que muitos atingissem picos de estresse, burnout, instabilidade emocional, dentre outros.
Outro ponto interessante é que 72% das companhias adotaram práticas mais humanizadas para as equipes. Por que isso é importante?
Essas práticas são muito importantes principalmente para que o profissional mantenha um equilíbrio em sua vida, contando com momentos de descompressão proporcionados pela empresa. Entretanto, o ponto mais interessante disso tudo é que a pandemia acelerou um movimento de preocupação genuína com as pessoas e o senso de preservação da vida. Enxergando os indivíduos em sua totalidade, sem a separação do profissional e pessoa física.
Hoje em dia, por exemplo, há uma grande preocupação em não contrair a covid-19, mas mais importante que isso é não contaminar as pessoas próximas. Esse senso de colaboração e empatia cresceu com a pandemia. Por isso, é importante que as empresas internalizem esses aprendizados para que, no futuro, possamos ser ainda mais humanos e respeitosos, trazendo um sentido diferente para o termo “viver em sociedade”.
A liderança tem um papel relevante nesse contexto?
É preciso reforçar também a importância do líder. Um de nossos clientes, por exemplo, criou uma reunião matinal para compartilhamento de resultados. Entretanto, mesmo que na pauta diária não haja atualizações sobre os resultados, o líder optou por manter esse horário bloqueado para que o time pudesse conversar e compartilhar momentos, sentimentos etc. Ao se aproximar do seu time e promover esse momento, ele conseguiu gerar um sentimento de pertencimento à equipe e, consequentemente, um maior engajamento, uma vez que mostrou uma preocupação genuína com cada um da equipe.
"Não existe uma empresa sem resultados, mas não existem resultados sem pessoas."
Roberta Bicalho, Senior Advisor da Falconi
O modelo de trabalho híbrido parece ser a tendência. Quais são os cuidados a serem tomados para implementar esse tipo de modo de trabalhar?
Apesar dos diversos benefícios do modelo de trabalho híbrido, que agrega os benefícios do trabalho físico e do trabalho remoto, é preciso que os profissionais e as empresas prestem muita atenção em alguns pontos críticos que esse sistema de trabalho pode trazer, principalmente, as jornadas excessivas de trabalho. Ao contar com uma rotina de trabalho remota, o profissional fica suscetível a um menor controle da jornada de trabalho.
Além desse ponto, a empresa também precisa zelar pela qualidade de vida dos profissionais e oferecer condições de trabalho, providenciando, por exemplo, infraestrutura e ergonomia adequada para o trabalho – mesa, cadeira, monitores, computadores, plano de internet, etc. Práticas como essas auxiliam os colaboradores a terem um local mais preparado para a realização de suas atividades e contribuem para a produtividade no dia a dia.
Mais da metade dos entrevistados diz que o RH não tem estrutura para lidar com as novas demandas do mundo pós-crise. O que fazer nesses casos?
O RH precisa estar próximo das pessoas e ouvir as reais necessidades dos líderes e das equipes para alcançar os desafios da companhia. Com isso, é possível ter um diagnóstico dos desafios organizacionais e traçar um plano de prioridades de gente. Desta forma, o RH poderá se tornar cada vez mais estratégico para a empresa e cada vez menos, agir apenas por demanda.
Outro ponto, é que a pandemia trouxe um cenário desafiador para as empresas e grande parte delas precisarão revisitar suas estratégias, objetivos e metas organizacionais. Na pesquisa Gente em Perspectiva, que a Falconi realizou com 517 profissionais, sendo 66% que exercem cargos de liderança e 47% da área de Recursos Humanos, 27% afirmam que terão que revisar os planejamentos estratégicos e 21% precisarão construir um trabalho de cultura organizacional. Sem dúvida, é preciso ter uma cultura organizacional forte, coerente, bem gerida e continuamente melhorada, pois é ela que direciona a área de RH como um todo e, se alinhada às estratégias da empresa e ao posicionamento da marca, une as pessoas em torno de um só propósito na busca pelos melhores resultados.
No que o RH precisa focar se tiver que escolher um ponto de partida?
Porém, quem determina a cultura organizacional são os donos e/ou a alta liderança. Por isso, é de extrema importância que eles estejam comprometidos com essa transformação e que a área mostre sua relevância e os benefícios que as mudanças trarão para a companhia.
Além disso, a área de RH deve ajudar a empresa a assimilar e perenizar os aprendizados que a pandemia trouxe, preparando-se para superar os desafios no futuro. Dentre eles, segundo a pesquisa ‘Gente em Perspectiva’ estão: maior capacidade de se reinventar, maior agilidade na tomada decisão, maior capacidade de aprender, maior confiança e autonomia para as equipes e fazer mais com menos.
Engajamento e comunicação são os dois pontos mais importantes na agenda dos executivos de RH. Por quê?
Ter times engajados significa ter times com níveis altíssimos de realização e comprometimento com a empresa. Estudos mostram que o engajamento influencia diretamente nos resultados da empresa. Portanto, podemos dizer que investir em gestão de pessoas é investir em resultados.
Em um momento tão turbulento como o que vivemos atualmente, como é possível ajudar os profissionais a se sentirem menos ansiosos e inseguros e, ao mesmo tempo, estimular para que deem o seu melhor a cada dia? A resposta está em manter uma comunicação clara e eficiente com líderes e equipes, compartilhando o maior conhecimento possível sobre os fatos e acontecimentos que envolvem a companhia. Com mais transparência, a empresa diminui possíveis ruídos comunicacionais e aumenta o engajamento dos funcionários.
Além disso, a comunicação também promove um alinhamento com as estratégias, metas e objetivos de negócio da empresa. Portanto, além de se sentirem mais seguros, uma vez que eles têm conhecimento dos pontos que impactam a empresa e a si próprios, os profissionais acabam direcionando seus esforços para ações que agregam valor para a empresa e em prol de um objetivo comum.
Para os líderes, a grande preocupação é o alcance dos resultados. Como garantir bons resultados no atual contexto?
Para se ter bons resultados é preciso que a empresa mantenha seu foco e invista em um conjunto de políticas e práticas que visam aprimorar processos e eficiência do negócio. Primeiramente, existem metodologias comprovadas para alcançar bons resultados. É importante que a empresa conheça essas metodologias e invista fortemente na implementação desses métodos. Entretanto, não é apenas esse ponto que trará bons resultados.
A empresa também precisa ficar atenta ao mercado e investir em novas tecnologias, uma vez que elas possibilitam o aumento da produtividade e ainda traz segurança para o negócio e as pessoas. O ponto mais importante é o investimento em gente. Não existe uma empresa sem resultados, mas não existem resultados sem pessoas. Assim, é de extrema importância que a empresa mantenha uma atenção redobrada no desenvolvimento e bem estar de seus profissionais. Mas esse investimento precisa ir além, para garantir ainda o alinhamento desses profissionais ao negócio e aumentar o sentimento de pertencimento.
Como garantir isso?
É essencial que a empresa invista em uma comunicação eficiente em todos os níveis organizacionais. Isso aumentará o alinhamento às estratégias, metas e objetivos da empresa e, ao mesmo tempo, diminuirá os ruídos organizacionais. Posteriormente, é importante reconhecer os profissionais e celebrar cada conquista de forma genuína. O ser humano precisa de estímulos para se manter engajado. Por isso, é extremamente importante reconhecer aqueles que fazem um bom trabalho e comemorar coletivamente quando alguma meta ou objetivo é alcançado.
Fonte: VOCÊ S/A