Publicado por Redação em Carreira - 14/04/2020 às 11:56:12
Demissões geram correntes de indicações em redes sociais
A onda de demissões que tomou conta de empresas e startups por causa da instabilidade provocada pelo novo coronavírus também gerou um movimento de apoio aos profissionais dispensados. Colegas de trabalho, ex-chefes e, em alguns casos, as próprias empresas que demitiram criaram correntes de indicações de talentos em redes sociais.
Funcionária de uma empresa de tecnologia, Bruna Alves fez uma postagem no LinkedIn para indicar 11 companheiros de trabalho que foram demitidos durante a pandemia. Em sua recomendação, além de seus respectivos perfis na rede social, ela listou qualidades de trabalho de cada um.
“É muito difícil conseguir emprego e, nesse período de incertezas, em que muitas empresas estão congelando vagas e também demitindo, imaginei que seria ainda mais difícil conseguir contato de recrutadores. Eu quis dar uma referência positiva dos meus colegas”, explica.
Em uma semana, o post teve mais de 400 curtidas e cerca de 20.000 visualizações. Bruna conta ter recebido muitas mensagens, inclusive de executivos de alto escalão se comprometendo a ajudar os colegas, e eles receberam, pelo menos, cinco contatos de processos seletivos. Um deles, nativo dos Estados Unidos e que mora em Nova York, foi contatado até por recrutadores brasileiros.
O líder técnico de engenharia Diogo Techera já estava em aviso prévio quando a Gympass, unicórnio brasileiro que conecta funcionários de empresas a uma rede de academias, anunciou a demissão de um número não divulgado de funcionários. Embora tenha pedido dispensa por ter outra proposta de emprego, ele criou uma postagem no LinkedIn para ajudar os colegas demitidos e pediu que empresas com vagas disponíveis para product manager, desenvolvedores e designers entrassem em contato com ele.
“Pensar no fato de pessoas ficarem sem emprego e sem plano de saúde mexeu bastante comigo, ainda mais por serem pessoas com quem eu convivia diariamente e sabia dos problemas pessoais de alguns deles”, explica.
Até o fechamento desta reportagem, o post já tinha mais de 600 comentários. Segundo Diogo, profissionais de vários níveis e áreas de atuação – de RH a executivos – entraram em contato com ele. Os colegas mais próximos, com quem manteve contato, já tiveram entrevistas agendadas.
O medo do cenário incerto e as notícias de empresas demitindo funcionários nas últimas semanas fez com que o grupo Mulheres de Produto, comunidade online que reúne mais de 4.500 mulheres que trabalham na área de tecnologia, criasse uma planilha para divulgar vagas abertas.
“Uma menina da comunidade criou um bot que, a cada vez que a pessoa escreve ‘vagas’ no nosso grupo no Slack, ela recebe a planilha. Isso fez com que ela crescesse muito”, explica Tássia Rebelo, criadora de conteúdo na comunidade e analista de produto na Linx, empresa de software de gestão.
Até o fechamento desta edição, a planilha tinha, em média, 100 acessos simultâneos e mais de 200 vagas – não apenas para mulheres – dentro da área de tecnologia. Com o crescimento no volume de vagas ofertadas, elas estudam a possibilidade de transformar o conteúdo em um site para tornar a navegação mais fácil.
Um novo emprego em meio à pandemia
A corrente de indicações no LinkedIn foi o que ajudou a product owner Sara Martins a conseguir se recolocar no mercado de trabalho após ser demitida durante a pandemia do coronavírus. No começo de março, ela deixou um emprego no Rio de Janeiro e se mudou para Belo Horizonte para trabalhar em uma nova empresa, mas três semanas após o início do contrato foi dispensada junto a outros funcionários.
“Eu nem completei o período de experiência, então eu não teria direito a FGTS nem seguro-desemprego, além de não conhecer o mercado da cidade. Fiz um post desesperada no LinkedIn e ele viralizou. Muita gente compartilhou e começou a me mandar vaga e outras pessoas perderam o emprego por causa da covid-19 começaram a me mandar mensagem.”
Motivada pelo cenário e pela sua situação profissional, ela criou uma planilha que reúne mais de 660 profissionais. Nesse caminho, encontrou um novo emprego no Banco Inter, onde já começa a trabalhar na próxima semana.
No momento, a planilha está disponível apenas para visualização dos profissionais, mas não é possível que novas pessoas se cadastrem. “Eu continuo falando com pessoas de Recursos Humanos e algumas ficaram de tentar fazer uma cartilha para ajudar pessoas neste momento. O que eu sei de novo, como dicas e vagas, eu posto no meu mural no LinkedIn.”
Incentivo das empresas
Pode parecer curioso, mas, em alguns casos, a corrente de indicação de profissionais demitidos partiu das próprias empresas que os demitiram. A MaxMilhas, plataforma de passagens aéreas que demitiu 167 dos seus 400 funcionários, criou uma planilha com os dados dos profissionais e compartilhou no LinkedIn.
“Foi uma demissão da empresa, mas por um motivo de força maior depois que analisamos os impactos do mercado de turismo ter reduzido drasticamente suas operações. Nosso time é incrível e não poder seguir com muitos talentos nos causou muita tristeza e vê-los reposicionados no mercado o mais rápido possível é o nosso maior desejo”, aponta Luiza Rubio, head de Gente & Gestão da marca.
Depois de trabalhar por quase três anos como analista de risco e antifraude na empresa, o administrador Diego Lopes foi um dos funcionários demitidos devido à crise provocada pelo novo coronavírus. “Em menos de uma semana, já recebi diversos contatos de empresas interessadas que eu participe de um processo seletivo por alguma indicação, seja de alguém da MaxMilhas ou por essa planilha geral”, conta.
O movimento de indicações também foi seguido pela startup mineira de marketing Rock Content, que cortou 20% de seus funcionários. Segundo o CEO Diego Gomes, a empresa criou a campanha #hirearocker para divulgar os ex-talentos e incentivou os funcionários que permaneceram empregados a usarem as redes sociais para recomendar seus antigos colegas de trabalho.
“Estamos comprometidos em executar a campanha, com profissionais dedicados a essa iniciativa, que durará por um ano ou até que 100% dos desligados tenham encontrado emprego”, informou.
A gerente de comunicação da empresa, Lizandra Muniz, teve 80% de sua equipe reduzida após os cortes e, com isso, foi uma das funcionárias que encabeçou o movimento no LinkedIn.
“Tive mais de 20 mil curtidas e o post já passou das 800 mil visualizações. Milhares de pessoas o compartilharam. Recebi centenas de comentários com vagas, e-mails, sites de cadastro. Dois dos indicados na postagem já fizeram entrevistas para outros cargos, um está ativamente participando em um processo seletivo e o restante já recebeu dezenas de mensagens com propostas de freelas e vagas”, conta.
Para a diretora da divisão de recrutamento da Talenses, Isis Borge, a atitude por parte das empresas pode ser benéfica. “Acredito que isso pode trazer mais oportunidades de entrevistas e contratações, mas vale a ressalva de que é importante a empresa consultar o profissional que foi demitido se ele tem interesse e autoriza a divulgação do nome. Existem pessoas que ainda estão digerindo o que ocorreu e nem todos querem esse tipo de exposição”, explica.
Em meio à onda de demissões, um grupo de empresas brasileiras divulgou na última semana o movimento Não demita!, manifesto em que, apesar da pandemia da covid-19, eles se comprometem a manter os postos de trabalho por pelo menos dois meses. Entre as companhias que assinam o documento estão nomes como Magazine Luiza, Natura e Suzano.
Dicas da Talenses para quem foi demitido:
- Aceite a situação: quanto antes conseguir dar a volta por cima para buscar um novo emprego, melhor
- Avise às pessoas que está buscando trabalho: não tenha vergonha de se expor, pois a oportunidade pode vir pelas mais variadas fontes.
- Atualize o perfil no LinkedIn e o currículo assim que possível
- Tenha disciplina: crie horários para fazer networking e para buscar vagas
- Alimente o seu LinkedIn: aproveite o tempo livre para escrever conteúdos interessantes na plataforma, pode ser uma exposição positiva na rede
Fonte: ESTADÃO